Muda o jogo. Muda tudo.
Faz-se uma viagem no tempo. Os homens deixam crescer o bigode e arranjam monóculos.
Ah!! A cartola… A acompanhar um elegante fato e botões de punho.
E elas? Em vestidos espartilhados, caracóis e chapéus. De sombra na mão…
Podia falar de genialidades sem fim, mas não.
Um degustar de palavras numa escrita cuidadosamente pensada. Em que cada vírgula determina uma ideia, um pensamento, um desejo…
Um livro apenas… Um orgasmo mental… Uma orgia de sentidos…
Eça de Queiroz… O século XIX e a luxúria das letras…
“Quando descia para o seu quarto, à noite, ia sempre exaltado. Punha-se a ler os «Cânticos a Jesus»(…).
«Oh! Vem, amado do meu coração, corpo adorável, minha alma impaciente quer-te! Amo-te com paixão e desespero! Abrasa-me! Queima-me! Vem! Esmaga-me! Possui-me!»
(…)
Amaro lia até tarde, um pouco pertubado por aqueles períodos sonoros, túmidos de desejo; e no silêncio, por vezes, sentia em cima ranger o leito de Amélia; o livro escorregava-lhe das mãos, encostava a cabeça às costas da poltrona, cerrava os olhos e parecia-lhe vê-la em colete diante do toucador desfazendo as tranças; ou, curvada, desapertando as ligas, e o decote da sua camisa entreaberta descobria os dois seios muito brancos. Erguia-se, cerrando os dentes, com uma decisão brutal de a possuir.
Começara então a recomendar-lhe a leitura dos «Cânticos a Jesus».”
Eça de Queiroz em “O Crime do Padre Amaro”
4 comments:
o MacGyver não sei, mas o Eça escrevia maravilhosamente o amor!
Beijo grande
Kapicua: O MacGyver é outra coisa... Outro mundo, outro jogo ;) (o da astúcia, talvez...).
Eça escrevia (entre outras coisas) o Desejo, a Luxúria e não o amor, mas sim o Amor ;)
Beijo
Eça escrevia maravilhosamente bem...
Beijos grandes
Volta, Eça! Portugal precisa de ti!!!!
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