"Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura..." (Fernando Pessoa)
24h00: A lua estava há muito não a via. Redonda, quase cheia. Talvez nos 99%. Alva e enorme, em frente ao Sol e irradiando a sua luz branca, a “claridade que vem do alto”…
Era a única luz que tinha. Estava desprovida de telemóvel ou qualquer outro “gadget” que desse luz. (Tinha um bem escondido, mas não me atrevia a usá-lo…). O caminho apresentava-se sinuoso. Chão de areia. Árvores ladeavam as bermas. Era incrível como se via tão bem apenas com a luz daquele satélite. Era como se tudo fosse claro que nem água. Bastava querer ver.
Estava sozinha no meio da multidão, como se costuma dizer. Um sapo atravessa-se no meu caminho. Páro para o deixar passar, mas ali fica ele no meio do caminho mesmo a 10cm dos meus pés. Baixo-me para o ver melhor e ele fita-me como a querer dizer qualquer coisa. Cerro os olhos numa tentativa frustrada de o compreender quando ele dá um salto em frente, seguindo o seu caminho.
- Estás maluca… Como se o raio do sapo fosse falar contigo… – E sorri para dentro a saber que ao menos não era só eu que estava a caminhar sobre aquela areia e que afinal todos temos um caminho a percorrer. A luz que temos é a mesma. Uns usam-na bem, outros andam aos trambolhões por não saberem abrir os olhos.
Fui o resto do caminho a pensar nestas coisas. No quanto precisamos de abrir os olhos para a Vida. No quanto, por vezes, precisamos de uma ajuda para que isso aconteça. Naquela noite sim, eu Via. De olhos bem abertos. A lua continuava no seu esplendor e o caminho tortuoso para os pés. As costas estavam doridas e a água escasseava. Grande parte dela tinha sido partilhada com os demais que não tinham levado.
2h00: O rumo mantinha-se. 180º. Parecia a volta da Vida desde 2008. 180º… Tantas vezes é somado que ora vamos parar ao mesmo sítio ora nos vira do avesso de novo. A minha cabeça continuava a matutar em todas estes assuntos enquando as pernas já estavam ligadas no piloto automático. Olho em frente e as luzes da vila começavam a ver-se. Faltava pouco para chegar ao fim.
Páro e começo a ouvir o vento e a ondulação numa mistura arrepiante. Ando mais depressa e lá está. A lagoa completamente banhada de prata, com ondas pequenas a rebentar no areal a 3m de mim. No Bico Dom Fernando estava uma árvore plantada na margem como se crescesse alimentada pela água salgada e pela luz que agora se mostrava mais forte que nunca sem qualquer obstáculo entre a sua fonte e o seu receptor. O vento era muito e o frio mais ainda, mas a recompensa estava ganha. As imagens eram soberbas apesar da sua simplicidade.
5h20: Adormecer. Adormecer a pensar no bem que me fazia poder partilhar tudo aquilo com quem de direito.
6h00: Acordo com a chuva a dar-me na cara. Assustei-me, mas depressa fechei os olhos e adormeci de novo, mesmo com as gotas a salpicarem-me a cara. Sentia-me Viva.
10h30: Tomo o pequeno-almoço com uma vista que não me sai da cabeça ainda hoje. A dois passos da praia, com uma vontade gigante de molhar os pés e com um sol que gritava “Bom dia!” a cada raio que emanava. E assim me despedi. Guardando para mim apenas toda aquela viagem feita e todos os pensamentos que nela me ocorreram.
Cheguei na hora ideal e parti na melhor altura.
Esta é a recordação que trago…
Beijinho, Pekenina
Esse sítio é mágico...
Rei Lagarto III: Se é... Também o senti... :)
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